O termo “rachar a Alemanha” é empregado em análises políticas para descrever o fenômeno pelo qual um segmento (econômico, cultural, religioso etc) é instado à desunião, com o propósito de seu enfraquecimento ou perda de influência. E a “ Alemanha” do agronegócio está se rachando por aqui.
Coesos nas eleições nacionais desde sempre, parece que há uma ruptura à vista. Parte do agronegócio, liderado pela família Maggi, já se posicionou pela candidatura de Luís Inácio Lula da Silva à presidência. Nesta semana, Elusmar Maggi chamou a Bolsonaro de “motociclista ruim de serviço”, e Blairo já se posicionou em apoiar o “queridinho” de seu parente Eraí ao Senado, o deputado federal Neri Geller (PP), que já selou acordo em Brasília para dar palanque a Lula aqui no estado, ao lado do Senador Carlos Fávaro (PSD). A outra parte (a maior, diga-se de passagem) segue em coerência apoiando ao Presidente Jair Bolsonaro.
O movimento dos Maggi acontece justamente porque o Governador Mauro Mendes, que prefere apoiar a reeleição de Bolsonaro, declarou que terá como candidato ao Senado Wellington Fagundes, do mesmo partido do Presidente, o PL. Como não coubesse deste lado a candidatura do “queridinho” Neri Geller, acabaram buscando outro palanque.
Claro que os Maggi não são cartas fora do baralho. O poder de influência política da família é conhecido, especialmente pelos aportes financeiros que fazem às campanhas. Mas sacas de soja não são exclusividade dos Maggi e, por isso, seu afastamento da candidatura de Mauro Mendes não assusta, embora possa preocupar.
Mas o tão aguardado anúncio da candidatura do senador Carlos Fávaro ao Governo de Mato Grosso não aconteceu, o que indica que Mauro não vai sentir tanto essa oposição. Claro que o apoio do agronegócio é relevante para qualquer um que pretenda se candidatar a cargo majoritário no estado. Mas, Mauro Mendes tem como principal cabo eleitoral a qualidade do seu governo, que ganha ainda mais realce quando comparado com as duas últimas administrações, as de Silval Barbosa e Pedro Taques, ambas desastrosas.
Essa é a razão de a parte do agro que quer ver Geller no Senado da República não forçar a mão para lançar um concorrente a Mendes. Sabe que será tarefa difícil desbancar um governador que já fora elogiado pelo próprio Blairo Maggi. Até que Fávaro seria um bom candidato, mas não conseguiria construir uma candidatura robusta para além da bolha em que vive, o agronegócio. A disputa ao Senado será a mais concorrida dentro do segmento. Ficarão os integrantes desse importante bloco econômico ao lado de Geller e Lula, ou manterão a coerência e apoiarão a Wellington Fagundes e Bolsonaro? Em outubro, saberemos.
Quanto ao racha, cuidado. Embora a Alemanha tenha conseguido se reunificar, uma outra nação jamais voltou a ser uma só após sua divisão, a coreana. Coreia do Norte e Coreia do Sul seguem como água e óleo e nada indica que se reunificarão outra vez. Será o agro uma Alemanha ou uma Coreia? É esperar para ver.