Agora MT Destaques Cobertura vacinal despenca nos últimos dez anos, e pólio volta a ameaçar...
IMUNIZAÇÃO

Cobertura vacinal despenca nos últimos dez anos, e pólio volta a ameaçar o Brasil

Falta de vigilância epidemiológica e ambiental, além de baixa adesão à vacinação colocam país junto de Venezuela e Haiti no índice de riscos de retorno da doença

Fonte: R7
VIA

Imagem: gotinha Polio Cobertura vacinal despenca nos últimos dez anos, e pólio volta a ameaçar o Brasil
Vacina contra poliomelite – Foto: Reprodução

Nos últimos dez anos, a cobertura vacinal da poliomielite caiu de 96,5% (2012) para 61,3% (2021), um dado que acende o sinal de alerta, especialmente no momento em que a doença é detectada em alguns países.

Dados do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) mostram que, até sexta-feira (12), o patamar de crianças vacinadas contra a pólio – uma doença grave e sem cura – não chegava nem a 50%.

“É importante contextualizar que, no passado, a pólio era uma doença extremamente grave, matava as pessoas, deixava as crianças com paralisias e sequelas para o resto da vida”, lembra o pediatra, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Renato Kfouri.

O último caso da doença por aqui foi em 1989. Em 1994, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou a erradicação da doença no Brasil. Mas, seguiu endêmica – com surtos frequentes – no Paquistão e no Afeganistão, na Ásia.

Neste ano, já foram encontradas amostras do vírus nos esgotos de Nova York, nos Estados Unidos, e de Londres, no Reino Unido. Além isso, Israel e Malawi, na África, confirmaram casos da doença.

A infectologista e consultora de vacinas do Delboni Medicina Diagnóstica, do grupo Dasa, chama atenção para a circulação do vírus.

“Vivemos no mundo de uma forma globalizada e, quando menos esperamos, podemos ter a reintrodução de um vírus que não circulava aqui no Brasil”, ressalta.

Pouca vigilância epidemiológica e ambiental

Em 2021, a OMS colocou o Brasil ao lado do Haiti e da Venezuela como um país de grande risco da reintrodução da doença. Além da baixa cobertura vacinal, a explicação para estarmos na mesma condição de vizinhos menos desenvolvidos passa pela falta de vigilância ambiental e epidemiológica.

“O Brasil tem uma baixa vigilância ambiental, tem uma baixa vigilância de paralisias flácidas e baixa cobertura vacinal. É um convite para a gente ter pólio aqui, demorar para reconhecer, e ela já estar alastrada”, destaca Kfouri.

A vigilância ambiental, a qual o médico se refere, é justamente feita a partir da coleta e análise de amostras de esgoto, em que é possível detectar o vírus e atestar a circulação dele em uma comunidade.

A infectologista concorda e completa: “O grande problema da poliomielite, como ela circula de uma forma que as pessoas não conseguem reconhecer facilmente, pode atingir alguém que não recebeu a vacina, e ela pode ter a doença na forma paralítica e ficar sequelada para o resto da vida”, pontua Maria Isabel.

O que é a poliomielite?

A poliomielite é uma doença causada por enterovírus, infecta inicialmente a nasofaringe, leva a um quadro de infecção intestinal e, na maioria das vezes a recuperação, é rápida.

Menos de 1% dos infectados terá as formas mais graves, chamadas de paralítica. Nela, o vírus acomete a musculatura, em geral de membros inferiores de um lado só, e a pessoa ficar com sequela para o resto da vida.

“É preocupante a possibilidade de termos pessoas que não tomaram a vacina, em um esquema que é tranquilo, seguro e podem ter uma doença que vai deixá-las com um problema sério para o resto da vida”, afirma a infectologista.

Por que as pessoas deixaram de vacinar as crianças?

Os motivos da queda da adesão às vacinas, principalmente em um país do tamanho do Brasil são muitos e é possível ver a diferença de comportamento com os dados do DataSUS.

Por exemplo, em 2021, a região Norte teve cobertura a menor cobertura: 53%. Em seguida, aparecem Nordeste (54,5%), Sudeste (63,8%), Centro-Oeste (65,8%) e Sul (72,2%).

“São várias causas em várias diferentes localidades, mas como pano de fundo de tudo isso, como causa comum a todos os locais, existe a baixa percepção de risco. As vacinas fazem sucesso porque eliminam as doenças, e as pessoas já não se sentem ameaçadas. É percepção do risco que nos move em direção à prevenção”, explica Kfouri.

A infectologista Maria Isabel completa: “Não temos muitos casos de doenças, as pessoas não têm medo do que não veem.”

A comunicação sobre a doença e a disponibilidade de vacinas no SUS são fundamentais para fazer com que o Brasil atinja novamente índices ideias de imunização contra a pólio –  superiores a 90% de adesão.

“Precisamos continuar motivando e explicando a vacinação mesmo sem as pessoas conviverem com a doença. Isso também vale para o profissional da saúde. Os jovens profissionais que também não tratam, não cuidam, também não recomendam de maneira enfática, como recomendávamos há décadas, que cobrávamos o calendário em dia”, salienta Kfouri.

Campanha nacional de vacinação

O país está em meio a uma campanha de vacinação contra a doença que vai até o dia 9 de setembro. Para ser considerada imunizada, uma criança precisa receber cinco doses da vacina, sendo três no primeiro ano, uma com 1 ano e três meses e reforço aos quatro anos.

Além da pólio, estão sendo oferecidos todos os imunizantes que fazem parte do calendário nacional do PNI (Plano Nacional de Imunizações), para crianças e adolescentes de zero a 15 anos.

Relacionadas

“Molha mais dentro do que fora”, desabafa moradora após posto de saúde do Jardim Primavera ficar tomado por água durante chuva

Uma moradora que não quis se identificar entrou em contato com a equipe do AGORAMT para denunciar a situação da Estratégia Saúde da Família...

Sete pessoas são presas durante ‘Operação Gólgota’ em MT

Sete pessoas, sendo duas mulheres e cinco homens, foram presas pela Polícia Civil (PC) durante a Operação Gólgota, na manhã desta quinta-feira (11), em...

Inscrições para projetos sociais do Corpo de Bombeiros começam nesta segunda-feira (15)

O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBMMT) abre, nesta segunda-feira (15.04), as inscrições para a participação de crianças e adolescentes nos projetos...

Mãe e filha são hospitalizadas após incêndio em casa no Jardim das Paineiras

Duas mulheres, sendo uma idosa de 62 anos e a filha dela, uma jovem de 25 anos, foram encaminhadas para Unidade de Pronto Atendimento...

Fazendeiro que gastou fortuna em desmate químico no Pantanal fica em silêncio durante interrogatório

Fazendeiro que gastou fortuna em desmate químico no Pantanal fica em silêncio durante interrogatório 16 de Abril de 2024 às 14:10 Notas fiscais emitidas por revendedoras de produtos agrícolas ultrapassam o valor de R$ 15,6 milhões

Desenvolve MT aumenta limite de crédito para financiamento de veículos para transporte

A agência de fomento de Mato Grosso, Desenvolve MT, ampliou os valores e melhorou as condições da linha de crédito Desenvolve Transporte, destinada ao...

Setor de serviços interrompe sequência positiva e volta a recuar em fevereiro

Após uma sequência de três altas consecutivas, o setor de serviços, responsável por cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, voltou a...

Zé Carlos do Pátio investe em pré-campanha para fazer de Paulo José seu sucessor

O prefeito Zé Carlos do Pátio (PSB) entrou de vez na pré-campanha do atual presidente do Sanear (Serviço de Saneamento Ambiental de Rondonópolis Terezinha...

Inscrições abertas para participar do Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Rio em MT

Está aberto o período de inscrições para integrar o Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) do Alto Rio Cuiabá, uma oportunidade para representantes da sociedade...

Especiais

Últimas

Editoriais

Siga-nos

Mais Lidas