Aprendo muito com a galé. Ela era uma embarcação utilizada por séculos pelos gregos, cuja propulsão principal vinha dos remos. Abaixo do convés, duas linhas de remadores eram formadas e os remos, com maior ou menor intensidade, ditavam a velocidade e, às vezes, a direção do barco. Mas como fazer com que os remadores mantivessem o ritmo, e quem garantia que eles fossem dispostos de tal modo a manter o equilíbrio de forças em ambas as fileiras? Era o cara do bumbo que fazia isso! Tocando o instrumento, ele ditava a cadência das remadas. Por isso, todos os remadores precisavam ouvi-lo com atenção e atender ao ritmo que ele imprimia.
E sempre tem um “cara do bumbo” perto de nós. Em casa, no trabalho, na igreja, na vizinhança, sempre surge uma liderança saudável que nos indica a velocidade que seguir. No futebol, chamamos esse cara de camisa 10; na igreja, de padre ou pastor; em família, pai e mãe; no trabalho, a chefia; na vida, Deus. O duro é que, quanto a Este último, temos tanta dificuldade de escutar-Lhe as batidas que pensamos que não há mais tambor batendo e, assim, vivemos a vida em qualquer ritmo, em qualquer frequência.
Nosso viver, de fato, parece ser o resultado de um conjunto de fatos aleatórios e descompassados. Olhamos para nossa vida e notamos em cada situação o acaso a nos reger os movimentos. Tudo foi sem querer! Planejávamos de um jeito nossa vida e, de repente, lá vem o acaso virar tudo para o ar. Quem diria que eu me tornaria um apresentador de TV, locutor de rádio ou escritor dessa coluna? Nunca planejei isso. Como foi que isso aconteceu? “Foi sem querer”, costuma ser nossa resposta. Engano nosso! Há um querer por trás disso tudo.
O “cara do bumbo” lá do alto, do mais alto, quero dizer, continua a cadenciar nossa vida, ainda quando não O vemos ou percebemos. Você pode pensar que sou louco. Escudo-me na frase de Nietzche (um ateu, paradoxalmente), que afirma: “E os que dançavam foram considerados loucos por quem não ouvia a música”. Esforço-me por ouvir a música constantemente.
Confesso, porém, que, mesmo quando a ouço, titubeio em seguir-lhe os passos. O que é um erro. Cada vez que atendi à batida do tambor universal, por fé mesmo, acabei sendo bem sucedido. Não me refiro ao aspecto profissional ou financeiro, mas ao pessoal mesmo. Muitas vezes, a batida do tambor indicava-me o caminho da perda, o caminho de abrir mão de algo que possuía para beneficiar a alguém desconhecido. Em cada uma dessas vezes, após o ato de oferta, sentia-me como se tivesse cumprido um mister, uma missão. Era como um encargo pesando e queimando no peito que, afinal, cessava com a obediência.
Quando um de nós ouve a batida do bumbo do Grande Mestre e a segue, invariavelmente, experimenta a harmonia em cada aspecto da vida. Imagina se todos nós O ouvíssemos? Isso é o paraíso, o reino de Deus. Que é o reino de Deus? É a esfera ou ambiente em que Sua vontade é feita, não por imposição Sua (até poderia impor Sua vontade, caso quisesse), mas por acatamento nosso. Experienciar a doce condução de Deus em nossas vidas por meio de atender ao ritmo que Ele para nós estabelece é a tarefa a ser feita por aqui. Escutemos e atendamos ao ritmo que ecoa por eras sem fim e que continuará a soar por muito tempo ainda.