Costumo escrever sobre assuntos mais variados, às sextas-feiras, e não sobre o cotidiano, sobre o que acontece ou deixa de acontecer no dia a dia. Hoje, não poderei me furtar de acompanhar o noticiário nacional. Jô Soares morreu. Que sem graça.
Um mestre do humor e da vida, Jô deixou sua marca para além do teatro, cinema, televisão, literatura. O que mais me impressionava nele era a inteligência. Era capaz de tratar de assuntos complexos como economia, política, preconceito, discriminação, amor, de forma simples e desabrida, sem perder o humor, é claro.
Ainda na década de 1980, com o programa “Viva o Gordo”, da TV Globo, cunhou personagens que nos descrevia a todos. A gente podia mesmo se ver na televisão durante seus programas. Os bordões como “te dou um clique, gordo” (do personagem José Eugênio, aliás seu nome de batismo), ou “bota ponta, Telê (do Zé da Galera), ou ainda “me tira o tubo” (do General) resumiam o pensamento do povo brasileiro a respeito das coisas da vida.
Mas foi na década de 1990 que Jô Soares chegou a seu apogeu, inaugurando no Brasil um modelo de entrevistas já consagrado no exterior. O “Jô 11h30”, exibido pelo SBT, foi o programa precursor de uma onda de “talk’s show” que perdura até os dias de hoje. Com sagacidade e humor, Jô conduzia as entrevistas de modo a que todos os assuntos, indistintamente, se tornassem interessantes. Era muito comum a plateia soltar um “ahhhhhhh” quando ele anunciava o final de uma entrevista. Não era a qualidade do entrevistado, mas do entrevistador que fazia o programa grande.
Jô escreveu para o teatro onde também atuou. E chegou a lançar livros. Um deles eu li, “O Xangô de Baker Street”, que conta como Dom Pedro II teria convidado a Sherlock Holmes e seu fiel companheiro, Dr. Watson, a virem ao Rio de Janeiro, capital do Império, para investigar o desaparecimento de um violino Stradivarius. Ao desembarcarem no Rio, associam-se ao Delegado Pimenta para investigar um homicídio em que a vítima teve as orelhas decepadas por uma corda de violino. Não vou falar mais para não estragar a leitura dos que se interessarem por ela. Vale a pena.
A morte de Jô Soares neste 05 de agosto de 2022 não encerra ciclo algum. Os colegas humoristas que o sucedem na caminhada hão de ter em seus trabalhos a nota de seu fino humor. E, assim, para sempre a graça e a inteligência de Jô Soares serão por nós sentidas e estarão a nos fazer dar boas risadas, claro. Beijo desse gordinho aqui para o maior de todos os gordos, Jô Soares.