A resposta da pergunta acima será buscada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por ocasião do censo demográfico que se inicia hoje em todo o país.
Em 49 anos de vida, jamais fui entrevistado por um recenseador. Não desacredito no levantamento, porém. Mas, confesso que questiono os métodos empregados para as pesquisas de domicílio. Segundo soube por um colega de trabalho que já foi recenseador no passado, uma equipe do IBGE realiza uma ação prévia de contagem de casas e lojas em toda a cidade. Depois, municiam os recenseadores com os endereços e cobram as visitas a todos eles.
Como o número de habitantes afeta diretamente o volume de recursos federais e estaduais que um município recebe, segundo o mesmo colega, existe pressão por parte das autoridades municipais para que toda pessoa encontrada na cidade seja apontada como moradora dali. No censo, contudo, só são contabilizados os reais residentes da localidade.
Preocupo-me, também, com a qualidade do resultado do levantamento o fato de os recenseadores serem remunerados “por produção”. Isto pode fazer com que as pesquisas de domicílios não sejam realizadas com o tempo necessário a elas. E mais, imagine o caso de o recenseador ter que voltar a um determinado domicílio mais de uma vez ou duas vezes. Vamos desenhar? Um recenseador se vê obrigado a voltar a um determinado apartamento no bairro de Perdizes, em São Paulo, de um prédio de 30 andares, com 6 apartamentos pro andar. Ele voltaria? Pode ser que sim. Mas, mesmo voltando, e se não encontrasse os moradores? Bem, perguntaria aos vizinhos sobre quantas pessoas moram ali e obteria uma resposta.
Para além da baixa fidedignidade dessa resposta, ainda há questionamentos que não serão respondidos: 1) se a pessoa se declara homem ou mulher (precisa de declaração para isto!); 2) se o entrevistado se declara branco, pardo, negro, ou de outra etnia; 3) qual a renda familiar per capta; 4) qual a escolaridade dos membros daquela família; etc. Sem tais indicadores, comprometido estará o resultado final do censo.
Adiado de 2020 para este ano por conta da pandemia e por questões orçamentárias, o censo demográfico é o indicador oficial do governo, sobre o qual as políticas públicas são elaboradas. Se os números não reproduzirem fielmente a realidade socioeconômica do brasileiro, tais políticas públicas poderão estar aquém ou além do necessário, não permitindo a melhor otimização dos recursos públicos, então.
Duas novidades no censo desse ano. Primeiramente, o entrevistado, ao ser abordado pelo recenseador, pode fazer a opção de responder ao questionário eletronicamente. Para isto, deve o recenseador emitir um e-ticket, que abrirá um prazo de 7 dias para o entrevistado fornecer as informações buscadas pelo censo no próprio site do IBGE. Outra novidade é a pergunta inserida no questionário acerca da existência de pessoas com transtorno autista no domicílio. É a primeira vez que acontece e nos ajudará muito, como nação, a entender a dimensão de irmãos brasileiros que precisam de políticas de inclusão na sociedade.
Desejo bom trabalho aos recenseadores. E, por favor, entrevistem-me! Seria a primeira vez.