Giovanna Ewbank revelou que o filho Bless sofre de uma condição pouco conhecida, mas que, segundo estimativas, pode afetar em algum grau 1 em cada 20 crianças: o TPS (transtorno de processamento sensorial).
“Ele ouve mais que nós todos, ele tem mais tato do que todos, sente mais cheiro do que todos”, explicou Giovanna no podcast apresentado por ela, o Quem Pode, Pod.
Basicamente, o TPS afeta a forma como o cérebro lida com estímulos e torna os indivíduos muito mais sensíveis a estímulos que são considerados normais para outras pessoas.
A condição é normalmente identificada na infância, mas pode ser diagnosticada em adultos, quando o TPS tenha passado despercebido na infância.
O diagnóstico é algo difícil, uma vez que a própria AAP (Academia Americana de Pediatria) não tem uma definição aceita do TPS.
O transtorno também não consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, manual utilizado por especialistas em saúde mental no mundo todo.
“Não está claro se as crianças que apresentam problemas sensoriais têm um ‘distúrbio’ real das vias sensoriais do cérebro ou se esses déficits são características associadas a outros distúrbios de desenvolvimento e comportamentais. Como não existe uma estrutura universalmente aceita para o diagnóstico, o distúrbio do processamento sensorial geralmente não deve ser diagnosticado”, diz a AAP em uma declaração emitida em 2012.
No documento, a AAP ainda sugere que “outros distúrbios de desenvolvimento e comportamentais devem sempre ser considerados, e uma avaliação completa deve ser concluída”.
“Dificuldade em tolerar ou processar informações sensoriais é uma característica que pode ser vista em muitos transtornos comportamentais do desenvolvimento, incluindo transtornos do espectro autista, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtornos do desenvolvimento da coordenação e transtornos de ansiedade infantil”, explica.
Ainda assim, há especialistas que entendem que o transtorno de processamento sensorial é uma condição específica, com sinais que podem ser sugestivos.
O conceito de TPS, todavia, tem sido difundido entre terapeutas. Nos Estados Unidos, a terapeuta ocupacional Lucy Jane Miller é uma das principais pesquisadoras do tema. Ela e colegas desenvolveram testes para identificar a condição.
O pioneiro nos estudos do TPS, o neurocientista Jean Ayres, comparou a condição a um “engarrafamento” neurológico que impede que certas áreas do cérebro recebam as informações necessárias para processar e agir de acordo com informações recebidas pelos sentidos.
Segundo o PeaceHealth, um sistema de saúde sem fins lucrativos dos Estados Unidos, o TPS faz com que as crianças tenham mais dificuldade para responder a informações sensoriais da maneira correta.
“Os sentidos incluem tato, movimento, olfato, paladar, visão e audição. Na maioria dos casos, essas crianças têm um ou mais sentidos que reagem muito ou muito pouco à estimulação. Esse distúrbio pode causar problemas no desenvolvimento e no comportamento da criança”, acrescenta a organização em seu site.
Os principais sinais do TPS em crianças incluem:
• movimento constante ou cansaço, podendo haver períodos constantes entre os dois;
• incômodo ao ser tocado;
• recusar-se a comer certos alimentos por causa da sensação quando são mastigados;
• hipersensibilidade a odores;
• não gostar de sujar as mãos;
• hipersensibilidade a certos tecidos;
• desconforto com alguns movimentos, como balanços e gangorras, por exemplo;
• dificuldade para se acalmar após exercício;
• pular, balançar ou girar excessivamente;
• tropeçar facilmente ou ter equilíbrio ruim;
• alteração de postura;
• dificuldade de manusear objetos pequenos;
• hipersensibilidade a sons de aspirador de pó e secador de cabelo, por exemplo;
• falta de criatividade nas brincadeiras.
No podcast, Giovanna contou ainda que se sentiu culpada por, antes do diagnóstico, acreditar que fossem frescura algumas reclamações dele, como cheiro forte e barulho alto.
As causas do transtorno de processamento sensorial não são claras. Segundo o Star Institute, fundado por Lucy Jane Miller, pesquisas preliminares sugerem certo grau de hereditariedade dessa condição, pois ela é codificada no material genético da criança.
“Complicações pré-natais e de nascimento também foram implicadas, e fatores ambientais podem estar envolvidos. Por exemplo, as crianças que são adotadas frequentemente experimentam TPS, talvez devido a restrições em seus primeiros anos de vida ou cuidados pré-natais inadequados. Fatores de risco de nascimento também podem causar TPS (baixo peso ao nascer, prematuridade etc.). Claro, como acontece com qualquer transtorno de desenvolvimento e/ou comportamental, as causas do TPS provavelmente são o resultado de fatores genéticos e ambientais. Somente com mais pesquisas será possível identificar o papel de cada um”, diz em seu site.