Três cidades brasileiras selecionadas entre as 12 sedes da Copa do Mundo de 2014 não têm times nas duas principais divisões do Campeonato Brasileiro. E o futuro dos estádios, que juntos custaram R$ 2 bilhões, é uma incógnita. No entanto, a reta final dos estaduais deixa uma única certeza: não será o futebol o responsável por movimentar, encher de público e, principalmente, sustentar economicamente obras de custo tão alto. Ainda mais no que depender das competições locais.
Em Mato Grosso, o Estadual termina com raríssimos jogos tendo atraído mais de mil pessoas, apesar de estratégias como trocar ingressos por um quilo de alimento e até, em plena decisão do título entre Cuiabá e Mixto, hoje à tarde, oferecer um kit com água, refrigerante, boné e leque a quem comparecer. Em Brasília, boa parte dos jogos com mais de mil pessoas no estádio tiveram pelo menos 50% dos bilhetes vendidos a R$ 1. E, mesmo assim, a competição colecionou números modestos. Já em Manaus, considerando todo o primeiro turno e a fase de classificação do segundo turno — a federação local não publicou os borderôs das semifinais do returno —, a competição jamais alcançou um público de 3 mil pagantes numa partida.
A Arena da Amazônia, estádio que substituirá o antigo Vivaldão, que foi demolido, tem custo estimado em R$ 529 milhões, embora o ritmo das obras seja preocupante. Os responsáveis pela obra garantem que o projeto já atingiu 56% de execução e que um novo financiamento, desta vez da Caixa Econômica Federal, garantirá a entrega em dezembro deste ano.
O projeto é de um estádio com capacidade para 44.310 pessoas. No entanto, o estado, que só terá representantes na Série D do Campeonato Brasileiro neste ano, viveu um Estadual praticamente abandonado pela torcida. A média da competição é de 588 pagantes por partida, num campeonato com ingressos oscilando entre R$ 5 e R$ 10. E os times que jogaram como mandantes em Manaus, onde está sendo erguido o novo estádio, tiveram desempenho pífio de público. No primeiro turno, o Rio Negro, por exemplo, levou 215 pagantes ao jogo com o Fast, 304 à partida com o Princesa e 176 à contra o Sul-América. Nacional e São Raimundo reuniram entre 500 e 700 torcedores.
Até pelo aspecto econômico, com estádios novos e que, em tese, vão gerar custos mais altos, a situação preocupa. O maior público do campeonato, entre os jogos com borderô publicado, foi a final do primeiro turno, entre Fast e Princesa. O jogo, em Manaquiri, com 2.705 pagantes, teve renda de R$ 20.785, ou seja, o valor médio do ingresso pago foi de R$ 7,68.
Em Natal, disputa sem fim
No Distrito Federal, justamente a sede de um dos estádios mais caros do Mundial, a moda no campeonato foi vender ingressos a R$ 1 para tentar atrair o público. A fórmula não foi eficiente. A competição tem média de 844 pagantes por partida. E nos raros jogos em que o público ultrapassou duas mil pessoas, o percentual de ingressos vendidos a R$ 1 foi muito significativo. Alguns exemplos são o jogo entre Botafogo-DF e Gama, com 2.310 pagantes e 2 mil bilhetes vendidos ao preço mínimo. No jogo entre Sobradinho e Brasília, dos 2.732 bilhetes vendidos, quase 2.500 foram pelo preço promocional.
Houve raras exceções. O clássico Gama x Brasiliense, no primeiro turno, teve recorde de público, com 8.489 pagantes e renda de R$ 91 mil. Ou seja, o preço médio do bilhete foi de R$ 10,70. No entanto, esta não é a regra. Legião e Luziânia atuaram para 18 testemunhas, num jogo que registrou renda de R$ 135. Gama e Brasiliense, times de mais representatividade, tiveram números pobres na competição. O Gama, de cinco jogos como mandante, fez dois com menos de mil pagantes. Nos de maior público, teve cerca de 20% dos bilhetes vendidos a R$ 1. Já o Brasiliense vendeu 50% dos ingressos a este valor. As semifinais e finais de turno tiveram média de 1.869 pagantes. Uma semifinal do returno, entre Ceilândia e Sobradinho, levou apenas 880 pessoas ao estádio.
Com times apenas na Série C, a aposta é levar jogos de cariocas e paulistas para a cidade. A nova arena custou R$ 1 bilhão.
No Mato Grosso, embora a federação local não tenha publicado borderôs de todos os jogos semifinais e finais, os números da interminável primeira fase, com 16 partidas para cada um dos nove times, são desalentadores. Em 72 partidas, o maior público foi de 1.400 pessoas para ver União Rondonópolis x Cuiabá. Os times da capital — Mixto, Cuiabá e Mato Grosso —, onde ficará a Arena Pantanal,tiveram médias assustadoras. O Mato Grosso reuniu 280 pessoas por jogo, contra 701 do Mixto e 383 do Cuiabá. Enquanto isso, o Sinop, que chegou a jogar para 31 pagantes contra o Rondonópolis, passou a cobrar 1kg de alimento por seus jogos. O mesmo Rondonópolis levou só 28 pessoas para vê-lo duelar com o Cacerense. Os ingressos custavam entre R$ 5 e R$ 15.
No primeiro jogo da final, surgiu o maior público: 3.134 pessoas viram Mixto x Cuiabá. Para o jogo de volta, hoje, serão oferecidos brindes, água e refrigerante a quem comparecer. A Arena Pantanal, orçada em R$ 519 milhões, terá capacidade para 43.600 pessoas.
Em Natal, o problema é outro. A cidade tem dois times na Série B, o que, eventualmente, proporciona bons públicos. Mas enquanto o ABC prioriza seu estádio, o Frasqueirão, a federação local e o América-RN ainda não entraram em acordo com os futuros gestores do estádio quanto às condições de uso.