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Repórter brasileiro vira réu da Justiça após investigar grupos terroristas

Da redação com R7
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Oliveira diz que não era simpatizante do Daesh - Wikimedia Commons
Oliveira diz que não era simpatizante do Daesh – Wikimedia Commons

Após se tornar réu em um processo que apura suposta promoção do grupo terrorista Daesh (conhecido como Estado Islâmico), o jornalista Felipe Oliveira, 29 anos, garantiu que seus trabalhos, para a Folha de S. Paulo e para um programa da Rede Globo, foram estritamente jornalísticos, sem nenhum intuito de incentivar qualquer prática terrorista.

— Meu objetivo era justamente tentar entender como funcionavam esses grupos, como era situação de recrutamento, o que eles estavam fazendo, como estavam agindo, inicialmente era isso.

Ele diz que as matérias para o jornal não foram a causa de seu atual processo. As autoridades, segundo ele, foram avisadas desde a Europa, onde as matérias foram realizadas.

O núcleo da questão está nas reportagens feitas para o programa da TV, em julho de 2016, por terem sido realizadas no Brasil. Ele afirma que avisou as autoridades sobre sua atividade poucos dias depois de ter entrado em contato com grupo no Brasil, que seria simpatizante da entidade terrorista.

— Quando tivemos acesso ao grupo aqui no Brasil, começamos a falar com o grupo, com o qual entramos em contato em uma quinta ou sexta. Entre sábado e domingo seguintes, após entender o material, se era verdadeiro, o levamos para a Polícia Federal e mostramos o que encontramos.

Oliveira ressalta que não era simpatizante de nenhum grupo terrorista. E tem esperança de que a Justiça o absolverá.

— Olha, a gente confia na Justiça. Estávamos fazendo um trabalho puramente jornalístico, confiamos que a Justiça vai verificar e absolver, porque em momento nenhum quisemos promover terrorismo. Pelo contrário, tudo que sabíamos informávamos para as autoridades.

Oliveira conta que está se sentindo intimidado com a situação, após ter sua identidade revelada. Em 2016, ele entrou em um fórum virtual usando um codinome para apurar os métodos de recrutamento de jovens pelo Daesh na Europa. E passou a se comunicar com integrantes de grupos brasileiros simpatizantes da organização terrorista, como um interessado em se juntar a eles.

— Depois que houve o indiciamento a identidade foi revelada e teve pessoas, que foram indiciadas na Hashstag (Operação que apurava envolvimento de brasileiros com grupos terroristas) que fizeram intimidações, não ameaças. Eles me intimidavam entrando em contato com perfil pessoal, mandando mensagens. A gente se sente um pouco até inseguro, nesta questão de segurança, e lamenta, porque um trabalho que era jornalístico, para uma grande emissora de TV no Brasil, no fim das contas ter sido dessa forma.

Segundo o advogado de defesa de Oliveira, Beno Brandão, tal situação é “um ataque à liberdade de imprensa”.

— É um caso claro para absolvição sumária. A procuradoria acha que ele deveria ter parado os contatos depois da matéria ter ido ao ar, mas ele só estava fazendo seu trabalho.

O argumento do procurador da República, Rafael Brum Miron, que assina a denúncia contra Oliveira, entende que houve, por parte do jornalista, um encorajamento ao crime por meio de suas mensagens.

— O objetivo dele talvez não fosse promover o terrorismo, mas por diversos momentos ele incentivou o ilícito. O limite em uma investigação desse tipo é não incidir no crime que se está apurando.

A denúncia do Ministério Público Federal, em Curitiba, afirma que Oliveira “deveria levar os fatos em apreço [a existência de grupos terroristas] ao conhecimento da Polícia Federal assim que soubesse do cometimento de crimes”.

O jornalista, porém, insiste em dizer que deu as devidas informações à Polícia Federal.

— Sabíamos que essas questões têm de ser informadas logo, me comunicava com chefe da sessão antiterror da Polícia Federal, passava gravações para poder colaborar. O intuito era saber se realmente exisitia esse grupo no Brasil e denunciá-lo para as autoridades.

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