Seja em grupos de aplicativos de mensagens ou nos feeds das redes sociais. Certamente você já se deparou com uma notícia um tanto quanto duvidosa. As fake news, ou “notícias falsas”, na tradução literal, normalmente são compartilhadas com caráter de urgência, provocando repulsa, medo ou revolta. Perigosas, elas podem destruir carreiras e até matar. Como em 2014, quando Fabiane Maria de Jesus foi espancada e morta ao ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças, em Guarujá, no litoral de São Paulo, após um boato se espalhar pela internet.
A avalanche na disseminação de notícias falsas explica a “pós-verdade” ser eleita, em 2016, como a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. De acordo com ele, pós-verdade significa o “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais”. As eleições 2018 aqui no Brasil estão ai para provar tudo isso. A inexistência de debates e discussões mais aprofundadas de propostas dão lugar a ataques tendo como pano de fundo meias verdades, equívocos e notícias mentirosas para legitimar ideologias. Mas, e no contexto da educação? Como as fake news podem atrapalhar a vida do estudante?
Para Evandro Machado, professor de História, Filosofia e Sociologia na plataforma de ensino online “Me Salva!”, as notícias falsas acabam sendo uma pegadinha. “É muito perigoso, sobretudo para o/a estudante, relativizar ou mesmo simplificar assuntos complexos baseando-se em notícias de internet ou em blogs pouco confiáveis”, comenta Evandro.
Os produtores de fakes news se valem da descontextualização dos fatos para refutá-los ou criar um novo sentido. Para o professor, fazer uma interpretação de modo indiscriminado acaba por alterar o próprio fato. “Você pode abrir uma matéria na página de um amigo em que está escrito ‘O Partido Nacional Socialista Alemão construiu campos de concentração’. Sem a devida explicação e contextualização, qualquer um chegaria à conclusão de que este partido pertencia à ordem política de esquerda da época, o que é completamente errado, às vistas da História”, explica. Um exemplo recente disso foi a tentativa de brasileiros darem uma “aula” – com direito a negação do Holocausto – sobre o nazismo aos próprios alemães após a Embaixada da Alemanha no Brasil publicar no facebook um vídeo abordando como eles lidam com o passado sombrio do país.
Disciplinas humanísticas geralmente são mais abertas à abordagens com diferentes perspectivas. E é ai que os estudantes devem ter cuidado redobrado no decorrer dos estudos. “O fato da História ser aberta à perspectivas sobre um determinado objeto não muda a essência desse objeto. As fake news e as negações históricas baseiam-se na alteração das evidências, e não das perspectivas. Em resumo, dizer que algo é uma perspectiva, um outro olhar sobre um objeto, é justo quando este objeto não é alterado”, diz o professor.