Agora MT Notícias Tuhu estava certo!
ARTIGO

Tuhu estava certo!

Fabricio Carvalho é compositor, maestro titular da Orquestra Sinfônica da UFMT, bacharel em Regência Orquestral pelo Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro e mestre em música pela Unicamp

Por Fabrício Carvalho
VIA

Imagem: fabricio carvalho Tuhu estava certo!
Fabrício Carvalho – Foto: Divulgação

Não é novidade que pesquisadores são categóricos ao afirmar que a música é reconhecida como uma modalidade que desenvolve a mente humana, capaz de promover o equilíbrio e proporcionar um estado agradável de bem-estar, facilitando, assim, a concentração e o desenvolvimento do raciocínio, especialmente em relação às questões reflexivas.

Na esteira dessas pesquisas, ressalto a importância da educação musical desde tenra idade porque, além de propiciar um melhor desempenho durante a vida escolar, inclusive com melhores notas, contribui, também, para o desenvolvimento de diferentes aspectos nas crianças, os quais serão importantes tanto na infância como na vida adulta. Dentre eles, destaco: o desenvolvimento cognitivo, a criatividade e a manifestação cultural.

Posto isto, proponho a reflexão: como anda o ensino da música em nosso país? Quais são as consequências da sua falta ou, ainda, de suas falhas?

Em entrevista recente, o compositor Jorge Vercillo, reconhecidamente um importante nome música brasileira, levantou a questão ao criticar a má qualidade da música atual afirmando ser: “Muito pobre, fraca, infantil, feia e sem imaginação” e que isso não seria responsabilidade dos artistas, nem da indústria cultural e muito menos da mídia, pontuando: “Na verdade, para gente que entende de música, o que está faltando é voltar a ter educação musical nas escolas. Aprender mais sobre a música brasileira, que é a música mais rica do mundo. A gente não deve a subestimar”.

Em breve síntese, havendo educação musical adequada, independentemente do artista ou estilo, de forma muito natural, o público se torna capaz de escolher músicas com mais qualidade.

Em um estudo denominado “Análise da Música Brasileira”, o pesquisador e analista, Leonardo Sales, estudou letras e acordes da música popular brasileira. Um dos parâmetros que o pesquisador adotou foi a evolução temporal da produção nacional, considerando todos os ritmos. Segundo ele, houve declínio da complexidade da música criada no Brasil, quando se leva em conta os acordes que dão estrutura harmônica à música. O primeiro declínio nesse quesito se deu nos anos 1960. Depois, a tendência se fortaleceu no final dos anos 1980 e início dos 1990, permanecendo até hoje.

O analista citou três razões para o fato: a absorção da música brasileira pelo rock – primeiramente, com a Jovem Guarda, na década de 1960, quando houve a primeira queda no quesito acordes; a popularização do rap e do hip-hop, com harmonias mais simples nos anos 1980; e a guerra televisiva dos anos 1990, que influenciou a linha de criação de hits. Segundo Sales, a produção do que ele chama de “música de prateleira” foi o golpe final na complexidade das composições brasileiras. É uma leitura sujeita a análise.

Mas seria só a qualidade musical atual o principal fator da falta de interesse no estudo da música no Brasil atualmente? Penso que não. Justamente porque a falta dessa educação representa um dos principais motivos que lavaram ao declínio do nível de nossa música.

O ensino de música nas escolas brasileiras é uma política pública regulamentada por lei, embora ainda não tenha sido plenamente implantada. A obrigatoriedade de incluir o ensino de música na grade curricular das escolas ocorreu em 2008, por força da Lei n.º11.769. Todavia, posteriormente, foi publicada a Lei n.º 13.278/2016, que incluiu, além da música, as artes visuais, a dança e o teatro nos currículos dos diversos níveis da educação básica.

Por não terem dado ainda passos efetivos no sentido de oferecer tais disciplinas aos alunos, muitas escolas, país afora, têm se protegido no prazo elástico de cinco anos, concedido para a adaptação do currículo, o qual termina agora, em 2021.

A valorização do contato da criança com a música já era existente há tempos, Platão dizia que “a música é um instrumento educacional mais potente do que qualquer outro”. Hoje é perfeitamente compreensível essa visão apresentada por Platão, visto que a música treina o cérebro para formas relevantes de raciocínio. Os benefícios das aulas de música são vistos desde os primeiros anos escolares.

Não restam dúvidas, portanto, acerca da importância do ensino de música nas escolas. Porém, para ser exequível, é preciso levar em conta a realidade local e ser pautado numa política pública nacional eficiente com essa finalidade. Investimento em formação profissional, com técnicas modernas de abordagem musical/artística, além de um olhar material consistente na aquisição de bons equipamentos musicais, adaptação de salas e auditório e apoio tecnológico. Ademais, necessário que haja também reflexão e esforço por parte dos pais e educadores, no sentido de inserir a música no planejamento, bem como criar estratégias voltadas para essa área, incentivando a criança a estudar música, seja através do canto ou da prática com um instrumento musical.

Eis, então, questão cívica a ser conduzida. Inspirados, por exemplo, no Maestro Villa-Lobos, o menino Tuhu do título deste artigo, que comandou um notável projeto de educação musical nos anos 30, músicos brasileiros de destaque no cenário musical da atualidade, como Jorge Vercillo, terem a iniciativa de propor melhorias no ensino da música nas escolas, objetivando uma sociedade musicalmente educada e capaz de ser crítica em relação ao que ouve é medida valiosa e que se impõe. Acredito ser este o caminho para que a sociedade, como um todo, tenha condições intrínsecas de perceber a grandeza de nossa música, o quão complexa, rica e única ela é. O país agradecerá.

Relacionadas

Confraternização reúne bombeiros militares da reserva em Rondonópolis

O comando do 3º Batalhão Bombeiro Militar (BBM), realizou um café da manhã em homenagem aos militares da reserva, nesta sexta-feira (3), em Rondonópolis-MT....

Médico é agredido com coronhada na cabeça durante assalto em policlínica de Rondonópolis

Um médico de 33 anos foi vítima de um roubo na tarde desta terça-feira (30), em Rondonópolis-MT. O crime ocorreu enquanto a vítima trabalhava...

Ministro Paulo Pimenta afirma que cidades do RS já sofrem com falta de combustível e alimentos

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social Paulo Pimenta classificou os eventos causados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul como “a maior...

Mais de 2,8 mil vagas de emprego são disponibilizadas pelo Sine-MT nesta semana

Farmacêutico, operador de empilhadeira e eletricista de manutenção industrial são algumas das oportunidades de emprego divulgadas nesta semana pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine-MT),...

Arritmia pode ter sido causa da morte de adolescente de 15 anos em escola de MT

A causa da morte do adolescente de 15 anos que passou mal em uma escola na cidade de Diamantino-MT, na sexta-feira (3) pode ter...

Operação mobiliza 380 policiais militares para concurso unificado neste domingo (05)

A Operação Concurso Unificado, que acontece no próximo domingo (05.05), vai mobilizar 380 policiais militares nas ações de transporte das provas e segurança dos...

MT | Detran disponibiliza mais de 20 serviços de forma online

Mais de 20 serviços do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT) podem ser feitos de forma online pelo site da autarquia ou...

Chuvas no RS: por que chove tanto no estado?; entenda as causas

O Rio Grande do Sul vive um dos maiores desastres climáticos de sua história. As fortes chuvas, que já duram dias, causaram mortes, deixaram...

Ulisses Henrique já havia sido preso por assassinatos de pai e filho de dois anos em Rondonópolis

Ulisses Henrique dos Santos, que morreu no confronto com a Força Tática, na manhã deste domingo (5), em uma região de mata, em Rondonópolis-MT...

Especiais

Últimas

Editoriais

Siga-nos

Mais Lidas