Nossa indicação da semana é a obra de Aristóteles, “Ética a Nicômaco”, que trabalha os valores humanos e a racionalidade prática para a vida cotidiana. Nesse contexto temos o termo grego “Aletheia”, utilizado para definir a verdade e a realidade, simultaneamente.
A verdade seria a máxima expressão da realidade, ou o desvelamento ou desnudamento das coisas tais como são. Também pode ser entendido como o não-oculto, não-escondido, não-dissimulado. Sócrates dizia que as pessoas, em sua grande maioria, não estão interessadas em descobrir a verdade, mas sim em convencer os outros de que elas estão com a razão. Convencer os outros de que estamos com a razão é um lugar cômodo em que não precisamos nos esforçar para conhecer a verdade.
Mas o que é a verdade? Imagine que você tome em suas mãos uma cebola e a apresente a alguém que nunca viu uma em sua vida. Agora pergunte-o qual a cor da cebola, e ele lhe dirá sem sombra de dúvidas, que ela é marrom. Você então a entrega a esse alguém, que manuseando-a, remove-lhe a casca, e percebe que a cebola na verdade é branca. Esse indivíduo desconhecia a cebola em um primeiro momento, então a verdade para ele era pela sua inexistência. A partir do momento em que ele teve contato com a hortaliça, a escama da ignorância caiu de seus olhos, e percebeu ele a verdade da existência desse vegetal, mas essa percepção era limitada ao sentido da visão. Podendo aprofundar-se na busca pela verdade ele então descobre que por fora ela é marrom, mas por dentro é branca, agora utilizando-se também do tato. Se ele for curioso, perceberá que a cebola na verdade não é uma massa robusta em formato circular como parece a princípio, e sim um conglomerado de camadas finas que se formam umas sobre as outras.
O que se nota é que a verdade possui níveis de percepção cada vez mais profundos, revelando-se em camadas, como a cebola. Imagine agora que você esteja em um prédio abandonado. Você olha em volta e só vê escombros. A destruição, abandono e sujeira é a verdade para você, essa é a sua realidade, perceptível pelos seus sentidos. Você busca uma janela e percebe a rua, as pessoas, outras construções, carros, e toda uma vida lá fora, e sua realidade se amplia. A verdade já não é apenas o prédio abandonado, mas a rua. Você sobe um lance de escadas e percebe árvores e flores nas calçadas e canteiros, e isso amplia ainda mais sua percepção da verdade. Então mais alguns degraus e você alcança o topo do prédio, de onde vê um lindo parque, com um enorme lago. Cisnes nadam tranquilamente. Borboletas e abelhas visitam as flores. Pássaros brincam na copa das árvores. Sua consciência se expandiu, e quando você descer as escadas e vir apenas escombros, saberá que essa não é a verdade toda, como pensou inicialmente, mas que fora do prédio tem algo muito maior.
Uma mente que se abre nunca mais se fecha. O conhecimento é um caminho sem volta. Cada novo conhecimento é como uma nova cor de tinta para o pintor. Quão colorida você quer que seja sua vida? O conhecimento precisa se tornar um valor para você, uma racionalidade prática. Sejamos buscadores, procurando sempre, sempre…