Mesmo liderando a classificação do Corinthians ontem, nos pênaltis, para as oitavas-de-final da Copa do Brasil, Cuca não é mais o técnico da equipe. Em coletiva realizada após a partida, afirmou que sua família o chamava para casa e que ele “…estaria em casa amanhã (hoje) com eles”.
Cuca vinha sofrendo muita pressão dos torcedores que, pelas redes sociais, criticaram sua contratação após ser trazida à baila sua condenação por estupro pela Justiça suíça. Em 1987, ele e outros dois jogadores do Grêmio foram presos por um mês em Berna acusados de praticarem estupro de vulnerável contra uma jovem de apenas 13 anos. Cuca se disse inocente e que apenas estava no quarto em que adentrou a menina naquela noite, mas que não manteve relações sexuais com ela.
Julgado à revelia (quando o réu não comparece aos atos do processo), Cuca foi apenado a 15 meses de prisão e ao pagamento de 8 mil dólares de multa, penas que nunca foram cumpridas e que já estão prescritas, segundo a legislação suíça. Ainda na semana passada, Cuca gravou um vídeo ao lado da esposa e filhas ratificando sua inocência no caso e afirmando que jamais havia tocado em uma mulher de forma inapropriada ou inadequada. Mesmo assim, os torcedores não perdoaram. E não eles.
As atletas do time feminino do Corinthians publicaram um nas redes sociais um manifesto com os dizeres: “Respeita as minas não é só uma frase”. O técnico delas, covardemente, desmentiu as meninas, afirmando que a frase não dizia respeito a Cuca, mas era inegável. Detalhe: a publicação não foi retirada do ar mesmo depois da confusão que gerou, dando a entender que se tratava mesmo de um protesto pela contratação de Cuca pelo clube.
O ex-técnico do Timão agora vai buscar reverter essa questão nos tribunais da Suíça. Não sei se obterá êxito porque, como disse, já está prescrito o crime e porque o conteúdo do processo está sob sigilo da Justiça daquele país em razão de a vítima ser menor de idade. Se Cuca for, como alega, inocente, espero que consiga alguma declaração cabal disso por lá a fim de limpar sua honra.
O caso em questão evidencia uma verdade que impõe como uma montanha, nosso mundo está mudando e para melhor. A violência contra crianças, adolescentes, jovens, mulheres, idosos, comunidade LGBTQIA+ está cada vez menos tolerada pelo conjunto da sociedade. O respeito devido a cada membro desses grupos é uma exigência, premissa para admissão de uma pessoa no cerne social.
E o melhor de tudo isso é que as pessoas que compõem esses grupos abandonaram de vez o papel de “vítima” para exigir respeito. Chega de apanharem caladas ou calados. Elas sabem que o ambiente mudou e que os agressores não contam mais com a leniência das pessoas. Basta de violência. Pode ser que este texto encontre um agressor de mulheres, crianças ou idosos. Se este é o seu caso, pare com isto. Basta! Não aceitamos mais esse comportamento entre nós!