Um amigo querido me contou que, certa vez, uma jovem garota pedira ao pai autorização para ir ao baile que aconteceria no sábado seguinte. “Não, minha filha, você é muito jovem para ambientes assim”, negou-lhe o pai. Ela ainda insistiu na véspera do evento, recebendo de seu pai outra negativa. No sábado à tarde, porém, o pai pensou melhor e consentiu que a filha fosse ao baile. Disse-lhe: “Está bem, filha, pode ir ao baile, mas não volte muito tarde”. Ao que lhe devolveu a filha: “O baile já era, pai, o baile já era.”
O baile não era o baile; era a expectativa para o baile que contava. Era as conversas com as amigas durante a semana para saber que vestido cada uma usaria. Era o sapato emprestado da prima para combinar melhor com a roupa. Era o conselho sobre maquiagem que a amiga lhe daria. Era a joia que a mãe lhe emprestaria que um dia já pertencera à sua avó. O baile não era o barato, mas a expectativa em relação a ele.
Ana Vilela, em sua canção “Trem-Bala” (que eu amoooooo), deixou isso muito claro no seguinte verso: “Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu. É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu”. O caminho encanta mais que o destino e o percurso, mais que seu final. Notar as flores na caminhada ajuda a suportar a ansiedade da chegada. O caminho, por vezes, é longo; se não o desfrutarmos durante o trajeto, ele pode se tornar insuportável.
Um colega de trabalho me surpreendeu hoje ao afirmar que Sêneca, o notável jurista e filósofo romano do século I (4 a.C. – 65), o estaria ajudando muito. Defensor do estoicismo, ele afirmava que o homem devia empregar tudo que tinha para desenvolver a ataxia, que é a capacidade de não se incomodar com nada que ocorresse. Tudo acontece por um bom motivo e em perceber ou confiar nisso é que repousa a paz de espírito.
A ansiedade é nossa tentativa infrutífera de adiantar o tempo ou nossa estupidez em querer viver o problema que ainda não existe. Calma, há tempo para tudo! Veja o caso de nossa família. Estamos todos aguardando a chegada do Rafael, meu segundo netinho. Claro que desejo muito segurar-lhe nos braços e o beijar; mas, pergunto: que aconteceria se, para isto, eu o retirasse do ventre de minha filha antes do término da gestação? Minha ansiedade só provocaria um aborto. Por isso, esperar o tempo certo, embora desconfortável, é necessário.
E, enquanto espera, vai desfrutando das flores no caminho! No caso do meu netinho, a gente vai vendo a barriga da Letícia crescer, vai comprando as roupinhas para o enxoval, fazendo assinatura de fraldas (acredita que já existe isso!?), acompanhando os resultados de exames de ultrassom que ela faz nas consultas de pré-natal etc. Durante o tempo em que o aguardamos, já desfrutamos da sua existência, e sua chegada está logo ali!
Procure as flores do caminho, em qualquer tempo e circunstância. O barulho das preocupações e as miragens da ansiedade podem lhe roubar o perfume que elas exalam. Não os permita. Você poderia perguntar: “Mas, espera aí, Vanzeli. Você está trabalhando em um feriado (aliás, feliz Dia do Trabalhador para todos!). Onde estão as flores nisso!” Deixe-me lhe dizer: é melhor trabalhar em feriado que procurar emprego em dia útil. Tá vendo! Sempre há flores para serem contempladas. Encontre-as.