Pequenos produtores rurais, moradores do distrito de Jarudore, localizado em Poxoréu (MT), região Sul de Mato Grosso, devem começar a desocupar as áreas onde residem há anos em cumprimento ao mandado expedido pela Justiça Federal que determinou, a saída das famílias de não-índios no prazo de 90 dias. As propriedades estão em uma área que segundo o Ministério Público e a Fundação Nacional do Índio (Funai) pertence aos índios da etnia Bororo.
Como o prazo para a desocupação encerra no início da próxima semana, moradores da comunidade de Jarudore se mobilizam para ajudar as famílias a retirar os pertences das propriedades. Em uma das três áreas mencionadas no mandado para a desocupação, mora a família de seu Raimundo Carneiro, falecido em fevereiro de 2014.
Dona Alcinda, 68 anos, filha mais velha de seu Raimundo, conta que tinha três anos quando eles chegaram em Jarudore e passaram a morar em um sítio próximo a comunidade. Ela e os irmãos sobrevivem da agricultura familiar (pecuária).
“Estou mais sentida por causa do gado, a roça é nossa e o que nós ganhávamos vinha do gado. O que está me matando mais ainda é que o gado que nós tínhamos, vendeu para comprar uma casa. Tem muita gente que está chorando por nós, que conhece a gente desde pequena, minha mãe e meu pai. Não é fácil não, ” desabafou a moradora no vídeo. (Veja o vídeo abaixo)
Seu Jonas Mattos, 73 anos, vive na localidade há cerca de 11 anos, ele contou a reportagem do AGORA MT, que quando chegou ao distrito não haviam índios no local. Ele e a esposa, dona Maria, chegaram a investir na área cerca de R$ 80 mil, em piscicultura e pecuária. A chácara da família Mattos é conhecida em Jarudore por ter a única opção de lazer para os moradores.
Sem saber se vão ser indenizados, os pequenos produtores começaram a juntar os pertences para deixar as áreas de forma pacífica.
As três propriedades – cerca de 700 hectares – devem ser entregues aos índios da etnia Bororo, que vivem na Aldeia Nova Jarudores, localizada próximo as terras.
A decisão liminar atende a Ação Civil movida pelo Ministério Público e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Outro lado
Segundo o MPF, a área foi demarcada em 1950, como Terra Indígena (TI) e teve o título definitivo em agosto de 1951 que foi posteriormente registrado em cartório em 1958. Sendo que cerca de quatro meses depois foi criado o distrito de Jarudore.
Atualmente, conforme o MPF, vivem na Aldeia Nova Jarudores, em uma área de sete hectares cerca de 25 adultos e 50 crianças. Contudo, os moradores discordam, e alegam que as duas áreas ocupadas pelos indígenas chegam a 250 hectares, sendo que o número de índios chega a 30 pessoas no total.
Em relação a indenização, o MPF informou que não cabe ao Poder Público Federal.
“Os posseiros invadiram uma terra que não lhes pertence, sendo que a TI em questão até possui registro no 1º Cartório de Registro de Poxoréu. Não há que se falar em indenizar alguém por perda do que se apossou clandestinamente. Se o posseiro recebeu concessões do Município de Poxoréu/MT, parece, em tese, que poderá postular perante esse município e os seus gestores a indenização pertinente, ” informou por meio de nota.
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