Os Ornitorrincos são criaturas curiosas. Com bico de pato e pés munidos de esporões venenosos, estão entre os poucos mamíferos capazes de colocar ovos.
Eles amamentam de uma forma completamente diferente dos outros animais – e isso pode fazer com que se tornem aliados importantes dos cientistas no esforço para combater as superbactérias.
Pesquisadores australianos descobriram em 2010 que o leite do ornitorrinco contém uma proteína potente que evita a proliferação de superbactérias. O atributo, diz a equipe à frente do estudo, poderia ajudar na luta contra um dos problemas mais urgentes da humanidade: a resistência desses micro-organismos a antibióticos.
Agora, eles conseguiram isolar a estrutura da proteína e acreditam que a descoberta possa levar à criação de um novo tipo de antibiótico.
Ornitorrincos são monotremados, um pequeno grupo de mamíferos que podem botar ovos e produzir leite.
Eles não têm mamilos – em vez disso, concentram o leite na barriga e alimentam seus filhotes pelos poros na região. O leite é liberado por eles, como se fosse um “suor”, e aí os filhotes são amamentados “lambendo” o líquido da barriga da mãe.
Este sistema de amamentação pode estar ligado às propriedades antibacterianas do leite, de acordo com os cientistas.
Acredita-se que mamíferos tenham desenvolvido mamilos porque seria uma forma estéril de conseguir dar leite para seus filhotes sem contaminá-los com bactérias e outros micro-organismos.
No entanto, o leite do ornitorrinco acaba ficando exposto à sujeira de fora, o que deixaria os filhotes correndo risco de serem contaminados por algum agente patológico.
A proteína antibacteriana única que o leite dos ornitorrincos possui é a defesa do animal contra isso, conforme explica Julie Sharp, da Deakin University.
Eles a apelidaram de Shirley Temple, por causa de sua forma encaracolada – uma referência à atriz mirim que brilhou nos anos 1930. Newman afirma que a equipe aprofundará os estudos para “buscar informações sobre outras descobertas” nas propriedades do leite do ornitorrinco.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório em 2014 pedindo urgência na prevenção a uma eventual era “pós-antibiótico”, em que as infecções mais comuns que haviam sido facilmente tratáveis por décadas poderiam voltar mais fortes e oferecendo até risco de morte.
A resistência antimicrobiana ocorre quando as bactérias acumulam uma tolerância contra os antibióticos e passam essa resistência para a próxima geração de bactérias, produzindo superespécies.
Segundo o sistema público de saúde da Inglaterra, cerca de um quinto das prescrições de antibióticos são desnecessárias, já que muitos tipos de doença podem ser curados pelo nosso próprio organismo.
Estima-se que cerca de 5 mil pessoas morrem na Inglaterra todos os anos como resultado de infecções “resistentes” a remédios. O leite do ornitorrinco poderia ajudar no combate a esse problema, conforme os estudos dos cientistas têm revelado.