A assinatura de um acordo entre Estados Unidos e China nesta quarta-feira (15) para uma trégua na guerra comercial entre as duas potências mundiais com a promessa de o país asiático comprar mais 200 bilhões de dólares em produtos americanos ao logo de dois anos, incluindo commodities agrícolas, carro chefe das exportações mato-grossenses, não deve ter um impacto negativo para o Brasil, principalmente em Mato Grosso. Pelo menos essa é a análise inicial do produtor Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja).
Com a assinatura do protocolo, entre o presidente americano Donald Trump e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, as sobretaxas que seriam impostas à China no valor de 165 bilhões de dólares, estão suspensas. O documento prevê que a China aumente a compra de produtos manufaturados, agrícolas, energia e serviços dos Estados Unidos.
Enquanto alguns analistas de mercado estimam que um dos principais impactos no mercado de commodities pode ser na soja brasileira, que é um dos produtos mais disputado na guerra comercial entre os dois países, Galvan observa que o país americano não tem capacidade de atender toda a demanda chinesa.
“É difícil mensurar os impactos desse acordo para o Brasil nesse primeiro momento. Mas eu não ficaria com tanta preocupação como vi alguns comentaristas porque primeiramente não vejo que os Estados Unidos tenha essa produção para fornecer pra eles. Com a queda da produção deles na safra passada, inicialmente o fato de muita chuva que atrasou o plantio e também ficou muita área sem plantar. Em outubro aconteceu um frio fora de época e a gente esteve lá e viu in loco que principalmente, o plantio de milho estava muito atrasado”, explicou o presidente da Aprosoja durante coletiva na manhã desta quinta-feira (16).
Em relação à safra do milho, Galvan explica que são são apenas os produtores brasileiros que estão enfrentando dificuldades por causa do clima. “O milho está um problema gravíssimo no mundo todo, de fornecimento, devido os problemas climáticos. Aconteceu aqui na América do Sul na safra anterior à deles, aconteceu essa questão do excesso de chuvas e frio nos Estados Unidos. A Índia teve um problema grave também que é um grande produtor de milho. Enfrentou seca na safra passada. Então não consigo enxergar assim de ser uma coisa tão grave”, ponderou.
Para o representante da Aprosoja-MT, pode ocorrer um “atrapalho inicial” por conta do impacto no agronegócio. No entanto, segundo ele, não há motivos para preocupação entre os produtores. “Os Estados Unidos não têm essa mercadoria toda ai que estão falando na mídia pra entregar pros chineses. Se você for olhar o consumo interno deles, na transformação da matéria-prima, desverticalizando ela, não vejo com tanta preocupação. Agora, cautela sempre faz parte de qualquer negócio”, observou.
Previsão de safra recorde
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima, com base em seu terceiro levantamento divulgado em dezembro de 2019, que a produção brasileira de soja na temporada 2019/2020 alcance 121,09 milhões de toneladas. Se isso vier a se confirmar, o resultado será recorde, com aumento de 5,3% em relação à temporada passada.
Para o milho, a projeção é de 98,4 milhões de toneladas, uma queda de 1,6% na comparação com o ano anterior, que foi de 100 milhões de toneladas. A exportação de soja foi estimada em 72 milhões de toneladas na nova safra, lembrando que o Brasil é o maior exportador global de soja. Há, ainda, uma possibilidade de superar os Estados Unidos na produção para se consolidar em 2019/20 como o maior produtor.