A guerra entre Rússia e Ucrânia, embora localizada (ainda), pode trazer consequências para o mundo todo. É que ambos os combatentes são referências mundiais no suprimento de petróleo e alimentos, especialmente o trigo e o milho.
Desde o início da invasão do território ucraniano pelos russos, o preço do barril do petróleo já subiu mais de 20%, tendo sido negociado a US$ 122 na última quinta-feira. No ano, a alta é ainda maior. Em 31 de dezembro de 2021, o barril do petróleo Brent custava US$ 78,25, preço quase 36% menor que o atual. E a tendência é a piora do quadro se o confronto não terminar.
Os Estados Unidos já suspenderam a importação do petróleo russo, achando alternativa para o abastecimento de seu mercado interno na Venezuela (dá pra acreditar?) de Nicolás Maduro. A Europa, com 40% do seu petróleo vindo da Rússia, não tem como adotar a mesma medida, ficando à mercê do governo de Putin.
A alta de preços também já começa a ser verificada nos alimentos. É que Rússia e Ucrânia respondem por 35% do trigo e 38% do milho exportados no mundo. Os mercados temem que a guerra possa complicar a logística para o escoamento da safra desse ano e, para segurar o consumo, o preço dessa commodities vem subindo. Desde o início do confronto, o preço do trigo se elevou e atingiu o maior patamar em 14 anos.
Essas altas de preços vão impactar diretamente nossa economia. Pela política de preços da Petrobrás, a gasolina e o diesel são impactados diretamente pela cotação internacional do barril. Isso se dá porque não somos autossuficientes na produção de derivados de petróleo.
Sem investimentos em refinarias, o Brasil exporta o petróleo bruto para, depois, importar gasolina e óleo diesel. Também sem autossuficiência na produção de trigo, veremos o preço da farinha subir nos próximos dias.
Há ainda a preocupação com os fertilizantes. Boa parte do Nitrogênio, Fósforo e Potássio usados na lavoura brasileira vem da Rússia. Já há entraves logísticos para a chegada ao Brasil das compras já realizadas antes da guerra. É que as companhias de seguro não estão contratando com os navios que navegam pelo Mar Negro, onde se situam os portos russos para o embarque desses produtos. Estima-se uma queda de 5% para a próxima safra no Brasil.
Isso, claro, será sentido em Mato Grosso, especialmente em Rondonópolis. Sendo o agronegócio a base de nossa atividade economia, e tendo o meio rodoviário com principal modal para escoamento de nossa produção agrícola, aumento nos preços dos fertilizantes e do combustível farão com que nossa competitividade sofra perda. O produtor rural, que não é formador, mas tomador de preços, poderá ver a lucratividade de seu negócio diminuir, com consequências para todos nós.
As altas no petróleo, no trigo e no milho podem ser só a ponta do iceberg. Se a guerra não terminar logo, outras cadeias produtivas podem ser afetadas, com resultados deletérios para a economia global. Que a guerra termine, pois.