Li um conto (que dizem ser verdadeiro) que descrevia um encontro entre um velho crente e um jovem cientista universitário. Assim se desenrolava a história.
Um homem septuagenário está viajando de trem até Paris lendo seu livro de capa preta. Na poltrona da frente, um jovem universitário, desfrutando de sua leitura filosófica, interrompe o velho ao perceber que o livro se trata de um exemplar da Bíblia.
— Diga-me, senhor, ainda acredita nesse livro cheio de fábulas, contos inacreditáveis e crendices?
— Sim, mas não é um livro de crendices — devolve-lhe o velho — É a Palavra de Deus! Estou errado?
— Mas é claro que está! O senhor deveria estudar a História Universal. Veria que a Revolução Francesa, com seus ideais contornados pelos escritores iluministas como Jean Jaque Rousseau, Lavoisier, Voltaire, John Locke, Immanuel Kant, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda creem que Deus tenha criado o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
— É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia? — indagou o velho.
— Bem — respondeu o universitário — como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.
O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário. Quando o jovem leu o que estava escrito, um misto de incredulidade e vergonha fez-lhe decair o semblante. No cartão se lia: “Professor Doutor Louis Pasteur, Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França”. O velho homem leitor da Bíblia era simplesmente o maior cientista de seu tempo.
Não sei exatamente quando que, para ter conhecimento científico, foi necessário negar a crença, nem quando crer passou a ser um ato de ignorância. Penso que esses dois campos, ciência e fé, distintos, por evidente, complementam-se numa harmonia cabal e podem, por isso mesmo, dar ao homem conhecimentos empíricos para seu viver diário e conceitos etéreos para sua noção existencial.
A fé vai além da ciência, mas não contra ela. Crer não é um “salto no escuro”, mas um “passo na luz”. Pessoalmente, creio em Deus e creio, também, no livro que, para mim, Ele é seu autor intelectual, a Bíblia. Esse compêndio de 66 manuscritos (algumas religiões somam 73) contam uma só e a mesma história, a do amor de Deus por nós.
Nem por isso, deixo de acreditar na ciência. Considero mesmo a inteligência necessária para a construção do conhecimento científico uma dádiva de Deus e, desprezá-la, seria desconsiderar uma das próprias manifestações do divino. Pasteur cunhou uma frase que exibe com nitidez incrível como me sinto em relação à ciência. “Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima”. Negar a ciência é ignorância. Negar a Deus, também.